terça-feira, 11 de maio de 2010
Alice no País das Maravilhas e a Perda do Logos
Não é de hoje o fascínio pelo livro de Alice que algumas pessoas nutrem, entre essas tantas se encontra o autor do texto, o nonsense contido na obra cria um vácuo quase intransponível. A primeira impressão é que o livro é um amontoado de imagens aleatórias que temos de acompanhar como num sonho ou delírio.
Talvez seja isso mesmo, um sonho transposto, um delírio descrito engenhosamente por um artista de extremo talento (a tradução de Monteiro Lobato é impecável, de longe a melhor), contudo é forçoso reconhecer como Polônio que a Loucura tem certo método e que o sonho traduz um sentido mais profundo: Alice desce ao próprio inferno.
A primeira imagem do livro é da menina seguindo o coelho branco, ao segui-lo ela cai no abismo, ou seja, desce ao inferno. E o que nos mostra o inferno? um mundo sem logos, uma existência sem organização de tempo, uma vida sem sentido. Toda a simbologia de Alice esta no fato de ser impossível inteligir aquele mundo, uma vez que ela não tem logos, portanto é vazio de verdade e ininteligivel.
Todo a verdadeira existência depende de sabermos qual o sentido dela, sabemos que o copo existe e o mantemos existindo por sabermos qual o sentido da existência dele, há um logos que o organiza e torna-o real. No entanto no mundo das maravilhas, ou inferno, tal logos não existe (como se Deus não tivesse consumado o eterno pacto de existir e suportar a existência) e a verdade se aniquila. É um mundo dos existencialistas ou de Zarathustra, não é um mundo com sentido.
Vazio de sentido e de verdade o mundo torna-se uma sucessão de imagens grotescas que tendem a eliminar o sujeito tornando-o vazio em si mesmo, por isso também Alice nunca se define. O único que se salva é o gato careteiro, uma espécie de sábio do inferno que zomba o tempo todo do absurdo de tal vazio.
Por isso tudo que o Filme de Tim Burton é um assassinato da arte, e hediondo. Ele dá um sentido a acção de todos os personagens, retira-os do inferno e cria uma guerrilha pela justiça. Querem justiça? Cortem a cabeça deste filme e leiam o livro.
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